sexta-feira, 1 de junho de 2012

O ENSINO REFLEXIVO E PRÁTICO DA ESTIMATIVA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

MAGALHÃES, Antonio Carlos Tomás Fialho. Uberaba: Oficina de Ensino e Projetos Educacionais, 2003.

Todas as ciências tiveram suas origens na história da humanidade. A Matemática, e a Estatística como ramo desta, originaram-se do convívio social, das trocas comerciais, da contagem como caráter prático, utilitário e até mesmo empírico. Podemos perceber, ao longo da história, que desde a Antiguidade os povos já registravam o número de habitantes, de nascimentos, de óbitos, faziam estimativas das riquezas individual e social, distribuíam equitativamente terras ao povo, tudo por processos que atualmente chamaríamos de estatísticas.

No século XVIII, o estudo de tais fatos foi adquirindo caráter científico até que Godofredo Achenwall batizou a nova ciência como o nome de Estatística, determinando o seu objetivo e suas relações com as outras ciências. Contudo, os registros foram se tornando mais complexos, surgiram as representações gráficas, o cálculo das probabilidades, e a Estatística deixou de ser simples catalogação de dados numéricos para se tornar um estudo de prever o todo (população) por meio de inferências das partes (amostras) (CRESPO, 2001).

Na sociedade tecnológica, os estudos estatísticos ganharam um novo instrumento e as estimativas/estimação, hoje em dia são feitas em computadores, por meio de aplicativos sofisticados que constroem tabelas, gráficos e efetuam cálculos, rapidamente. O método estatístico, diante da impossibilidade de manter as causas constantes, estima variações e procurando determinar, no resultado final, que influências cabem a cada uma delas.

Ao se expressar por meio de números, as observações que se fazem de elementos com, pelo menos, uma característica comum (por exemplo, estimar os alunos do sexo masculino de uma determinada comunidade que irão ingressar, pela primeira vez, na Educação Básica), obtemos dados referentes a estes elementos.

Segundo Crespo (2001, p. 13): “A Estatística é uma parte da Matemática Aplicada, que fornece métodos para a coleta, organização, descrição, análise e interpretação de dados e para a utilização dos mesmos na tomada de decisões”. Nessa perspectiva, a coleta, a organização e a descrição dos dados, estão a cargo da Estatística Descritiva, enquanto a análise e a interpretação desses dados ficam a cargo da Estatística Indutiva e Inferencial e nesse rol se inclui a Teoria da Estimação.

O aspecto essencial da Teoria do Valor Estimado é o de proporcionar métodos inferenciais, que permitam conclusões que transcendem os dados obtidos inicialmente. Desse modo, a análise e a interpretação dos dados estatísticos, mais precisamente da estimação, tornam possível o diagnóstico de uma situação social, o conhecimento das condições de produção de uma empresa, para a formulação de soluções apropriadas e planejamento objetivo de ação (LOPES, 2001).

Após o planejamento e a devida determinação das características mensuráveis do fenômeno a ser estimado, damos início à coleta de dados numéricos necessários à sua inferência. Nesse sentido, temos a coleta contínua ou permanente, periódica quando feita em intervalos constantes de tempo, ou ainda a coleta ocasional quando feita de forma extemporânea, a fim de atender a uma conjuntura (CRESPO, 2001).

Na estimativa estatística, uma vez conhecidos os dados, estes devem ser criticados à procura de possíveis erros de estimativas que possam influir sensivelmente nos resultados. Depois de feitas as críticas na estimação dos dados, por mais diversa que seja a finalidade que tenha em vista, os dados são, geralmente, apresentados sob a forma de tabelas e/ou gráficos, tornando mais fácil o exame adequado daquilo que está sendo objeto de tratamento estatístico, que pode ser manual, eletromecânico ou informatizado.

Como já foi dito, o objetivo da Estatística é tirar conclusões sobre o todo, a partir de informações fornecidas por parte representativa do todo que são as amostras. Assim, realizadas as fases da Estatística Descritiva, faz-se uma análise dos resultados obtidos, por meio da Estatística Indutiva ou Inferência, que tem por base a estimação ou a indução para fins de decisões, diagnóstico e previsões.

Na Educação Básica brasileira (ensinos fundamental e médio), o conhecimento e o uso da Estatística têm por objetivo o trabalho com projetos em situações reais de ensino, o que fora, por muito tempo, relegado aos cursos universitários. Na escola, por meio de sondagens, coletas de dados, recenseamentos de opiniões, podemos conhecer a realidade educacional do contexto e da comunidade escolar. Nessa perspectiva, o ensino da estimação pode levar os alunos a analisar as expectativas da comunidade e estabelecer metas, objetivos com maior possibilidade de serem alcançados a curto, médio e longo prazos.

A estimação matemática auxiliará em tal projeto, como também na relação e organização de estratégias a serem adotadas nas práticas pedagógicas ao estudar outras aplicações da estatística, e ainda na escolha dos processos de verificação e avaliação da quantidade e da qualidade do produto final da pesquisa, que deve ser elaborada pelos próprios discentes do ensino fundamental e médio.

Vale ressaltar que nas últimas décadas, pela revolução tecnológica, como acontece com inúmeros fenômenos culturais, houve um avanço na utilização da matemática, principalmente por meio do computador. Nas palavras de Bicudo (2004, p. 58): “essas transformações pelas quais vem passando a matemática perderam-se nas dobras de um passado remoto.” Nesse panorama, toda vez que uma ciência avança em conceitos e métodos, o ensino por sua vez deve oportunizar aos alunos a possibilidade de se inserir na atualização da ciência para compreendê-la, praticá-la e quem sabe significá-la a nível de sociedade.

A teoria matemática do valor estimado, pode ser aplicada de vários modos e a quase todas as áreas do conhecimento humano, inclusive nas do senso comum. Vários são os exemplos possíveis de sua aplicabilidade. Nesse bojo, podemos citar o comercio varejista, no qual as encomendas podem ser feitas com base nas estimativas de vendas elaboradas pelas áreas de marketing ou de planejamento. Em razão desse e de outros exemplos, educação brasileira tem se voltado mais para matemática prática, ao substituir, gradatativamente, as exaustivas fórmulas - restritas aos cursos superiores que delas necessitam - pela ação por meio da aritmética e geometria, essencial para se planejar a intervenções na sociedade, transformando as aulas de matemática em lócus de aprendizagem significativa.

Referências

BICUDO, I. Peri apodeixeos/de demonstratione. In: BICUDO M. A. V. & BORBA, M. C. (orgs.). Educação Matemática: pesquisa em movimento. São Paulo: Cortez, 2004.

CRESPO, A. A. Estatística Fácil. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

GENTILE, P. & BENCINI, R. Construir Competências. Revista Nova Escola, p. 19-31, set/2000.

MILONE, G. & ANGELINI, F. Estatística Geral. São Paulo: Atlas, 1993.

SPIEGEL, M. Estatística. 3 ed. São Paulo: Makron Books, 1993.

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