Gostaríamos de ressaltar que a diversidade cultural que se constrói sócio-historicamente em múltiplos processos tem, na escola, o lugar privilegiado para ser abordado, pesquisado, debatido. A cultura popular é uma das bases do patrimônio social e cultural brasileiro, já que constitui uma unidade envolvendo o diverso, uma identidade dinâmica que se enriquece e se transforma na história.
São muitos os significados e a abrangência dessa cultura pois encontramos uma heterogeneidade de manifestações, variáveis e eventos contidas na arte e expressão popular de um povo. Nesse panorama, encontramos várias festas religiosas, diferentes maneiras de lidar com a culinária e a medicina popular, o ofício do artesão, as modalidades textuais diversas e, portanto, diferentes modos de atuar e se relacionar com a cultura nacional.
Embora a Educação caminhe pelo viés da cultura erudita e científica, a presença da cultura popular no cotidiano dessas duas formas culturais é inegável e enriquecedora. Isso porque a erudição e a popularidade caminham juntas, entrelaçando-se, mesclando-se por meio do dinamismo das relações sociais. O que não pode acontecer é de a escola e a sociedade valorizar mais o trabalho intelectual do que o manual, como se este último não fosse constituído de criatividade e saberes necessários ao seu desenvolvimento e aprimoramento.
Entretanto, não se pode negar que por meio desse dinamismo toda e qualquer manifestação cultural – popular ou erudita – é passível de ser modificada pois não se tratam de eventos e fenômenos estanques. Porém, a fidelidade às maneiras tradicionais de lidar com esses ofícios e expressões populares é necessária, para que na estilização não se distancie da proposta inicial, estereotipando sua constituição primeira. Nesse sentido, é muito importante se respeitar as datas em que determinadas festas, danças, celebrações e cerimônias ocorrem. Não se deve, pois, relegá-las a um único mês na tentativa de condensar e usufruir da cultura do povo, apenas em Agosto como o mês do folclore. Há que se tomar cuidado, inclusive, quanto às indumentárias, às coreografias, aos textos e outros acessórios que compõem essa manifestações.
Quando se lida a diversidade cultural na escola, pensa-se na formação pessoal do educando, tomando a cultura como instrumento de preservação da memória nacional e ao mesmo tempo promotora de mudanças sociais. As manifestações populares não implica cultura de massa, e sim um conjunto de saberes à disposição do povo brasileiro. A compreensão e apreciação desses saberes envolvem o conhecimento de como foram produzidos em seu processo de formação, o resgate e o exercício da multiplicidade das expressões artísticas literárias e festivas brasileiras.
Uma Educação articulada com a Cultura Popular significa uma maior flexibilidade dos conteúdos curriculares. Ao atender a diversidade social e cultural, a escola é um espaço ideal para refletir sobre a memória, as múltiplas culturas e o patrimônio histórico de uma nação. Nesse sentido, é importante que os cursos de formação de professores e educadores abordem o aspecto multicultural no processo de aprendizagem, capaz de perceber, ouvir, comunicar, atentar e lidar com as diferenças.
Ressaltamos que o estudo e a aplicação da sabedoria popular na sociedade valorizam a identidade coletiva, repleta de simbologias, signos, valores que enaltecem o modo de ser do povo brasileiro. Nessa perspectiva, a escola há que contemplar em seu Projeto Político Pedagógico, uma proposta consistente que caminhe para a pesquisa e contribua para que as novas gerações tenham acesso e responsabilidade na preservação de um estilo de vida brasileiramente arraigado em nossa alma.
Por se tratar de uma traço cultural, cuja tradição e apreço de famílias inteiras se preocuparam em perpetuar, os educadores, solidários com o compromisso de formar cidadãos, devem intermediar o processo educativo como promotores e facilitadores da construção sócio histórica, dentro da perspectiva da aprendizagem compartilhada. Essa modalidade de educação propõe uma ação educadora na qual há um intercâmbio cultural entre os integrantes do processo de construção de conhecimento, por meio da mediação de saberes entre os pares docentes e discentes.
Vimos que a literatura oral possui um amplo acervo de modalidades textuais, e, por isso sugerimos, como agentes do processo educativo, que seja trabalhado, na Língua Portuguesa-Brasileira, não só a morfologia e a sintaxe, mas elementos da semântica, o discurso e sua expressividade. No que se refere a literatura propriamente dita, observamos a grande variedade de gêneros, em prosa e verso, que estão à disposição de um estudo literário que contemple beleza, ética, estética e valores humanos.
Encerramos com um trecho da obra de Antônio Augusto Arantes (1984, p. 78) salientando que existem pesquisadores e educadores que reforçam a idéia de tratar a cultura popular como uma realidade científica: “(...) fazer teatro, música, poesia ou qualquer outra modalidade de arte é construir, com cacos e fragmentos, um espelho onde transparece, com as suas roupagens identificadoras particulares e concretas, o que é mais abstrato e geral num grupo humano, ou seja, a sua organização, que é condição e modo de sua participação na produção da sociedade. Esse é meu ver o sentido mais profundo da cultura, “popular” ou outra.”
Autor: Antonio Carlos Tomás Fialho Magalhães - Twitter: SaberFolclorico