terça-feira, 6 de julho de 2010

Música e Literatura

Ao compor esta reflexão, pretendemos analisar a Música Popular Brasileira enquanto possibilidade de ensino de literatura brasileira na Educação Básica. Isso porque são várias as obras literárias musicadas por compositores, desde peças teatrais até poemas, considerando, inclusive, as letras de música como literatura e arte. Para exemplificar, podemos observar o acervo de poemas de Vinicius de Morais, musicados por vários compositores da Bossa Nova. Temos, ainda, peças de teatro, nas quais estão inseridas músicas que embelezam o espetáculo, como “Calabar” e “Gota d’água” de Chico Buarque. E textos de Manuel Bandeira declamadas em meio a músicas nas obras da cantora Maria Bethânia.

Na intersecção entre música e poemas já consagrados, tem-se a belíssima Rosa de Hiroshima, musicada na década de 1973 e gravado pelos Secos e Molhados, na bela voz de Ney Matogrosso. Ademais temos canções que se tornaram expoentes tanto da MPB, a partir de poemas de Carlos Drummond de Andrade, a exemplo do poema Canção Amiga cuja letra serviu de base para a música de Milton Nascimento. Pode-se citar, nesse rol, a música “Funeral de Um Lavrador”, que é parte do poema “Morte Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto. Sem contar com as belas canções encontradas em nossa cultura popular.

Com isso, temos percebido que a união das duas disciplinas em torno da música revela um pensamento coletivo, consistindo, sobretudo, em uma forma de vida que indicam modos de sentir, de pensar e de interpretar os fatos sócio-culturais. Tanto a música quanto a literatura compreendem uma memória para a sociedade, já que ambas veiculam acontecimentos e a tendência de uma determinada época. Nessa perspectiva, não se podem apreciar as conseqüências da Semana da Arte Moderna e as primeiras marchinhas carnavalescas da década de 20, enquanto momentos separados.

Assim, entendemos que a Música Brasileira, a partir dos diversos movimentos culturais, esteve presente e interage com a literatura de nosso país, cujo ensino sugere uma inter-relação entre os autores literários e os compositores de canções. Desse modo, a música brasileira dos nossos dias e de outras décadas conquistaram e vêm conquistando seu papel na sociedade, no sentido de compor um acervo artístico juntamente com obras literárias consagradas. Vemos no diálogo literatura-música uma fonte de conhecimentos da cultura nacional à disposição de educadores que lidam com a Literatura e com a Educação Artística.

A Articulação Dialógica na Formação Social do Leitor

Esta reflexão tem por objetivo relatar o papel da articulação dialógica entre professor e aluno, na formação social do leitor capaz de compreender as várias modalidades discursivas em língua materna e estrangeira. Foi desenvolvido em sala de aula, biblioteca, em anfiteatros, e outros espaços pedagógicos, cujo ambiente favorecia a leitura e a compreensão dos mais variados gêneros dos discursos das diferentes ciências abordadas no ensino médio.

Nessa pesquisa, focalizamos a mediação pedagógica, por meio do diálogo coletivo e entre pares, visando a contribuir com a formação do ente-discursivo do aluno (ente no sentido de “estar sendo”, “em formação”), utilizando-se diversas linguagens que colaborem na ampliação de seu universo cognitivo.

Gostaríamos de enfatizar que as aulas sob o contexto de projetos muito chamaram a atenção do aluno, pois escolhemos temas que refletem a realidade social, cultural e ideológica de nosso país. Considerando que professores e alunos se formam e se interagem em espaços diversificados, respeitamos mutuamente toda e qualquer opinião, sugestão, perspectiva, concepção e a forma de expressar do grupo, e chamamos o projeto de Encontros com o Saber Lingüístico e Literário Sócio-Ideologicamente Construído.

Na interação professor-aluno, ao se desvendar e compreender o discurso que circula em um material simbólico e histórico, a reflexão de sua postura docente revela a natureza dos aspectos que irão definir a atuação do professor como facilitador do processo de análise da estrutura, do funcionamento, dos modos de organização, das condições de produção, dos contextos, os sentidos que se constroem na extensão dos enunciados de um instrumento de análise.

É imprescindível, em um projeto que envolve leitura, conhecer e compreender a organização da comunidade escolar e o conhecimento de mundo dos educandos, um diagnóstico objetivo da realidade sócio-histórica, na qual o processo de interação e aprendizagem irá se desenvolver. Esse processo foi desenvolvido por meio de projetos e temas, como por exemplo: O Eu, o Mundo e a História; A Questão do Tempo: leituras, convenções e concepções , dentre outros.

As aulas foram ministradas sob a forma de seminários e fóruns de debate, com uma visão multiprofissional, sendo que as primeiras propostas temáticas foram ao encontro dos interesses dos alunos pré-universitários. Ao mesmo tempo propomos contribuir para o aprimoramento e expansão dos conhecimentos lingüísticos e discursivos dos discentes que integraram os grupos de estudos durante os referidos encontros. Esses estudos se desenvolveram dentro da seguinte perspectiva didático-pedagógica: diagnóstico, orientação, acompanhamento, avaliação formativa, reflexão e reiteração, com o intuito de perceberem a inter-relação de conhecimentos.

Compreendemos o espaço pedagógico como uma realidade que permite a interação entre seres humanos (interlocutores) com o objetivo de analisar e fazer ciência. A relação dialética entre os saberes sócio-historicamente construídos, a construção social e discursiva dos leitores integrantes do projeto – mediadores e aprendizes – e o processo de análise de um material simbólico e ideológico quando bem orientada contribui para o sucesso na compreensão e elaboração de textos.

Apoiados nesses pressupostos, inferimos inicialmente que a interação na aprendizagem, por meio do diálogo, é essencial no contexto da formação social do leitor, quer criança, jovem ou adulto. Essas reflexões nos levaram a tomar novas posturas pedagógicas e a promover encontros por meio de seminários, envolvendo acadêmicos do Curso de Letras da Universidade de Uberaba de diferentes visões e concepções no estudo crítico de cada gênero discursivo. Desse modo, o fazer pedagógico que era desenvolvido individualmente no 1º semestre de 2004, ou seja, um só orientador, passou a ser conduzido em equipe, no 2º semestre do mesmo ano.

Percebemos que a ação dialógica no cotidiano escolar é um momento de criação de novos sentidos e significações sociais e culturais, levando-nos muitas vezes a transpor limites além das expectativas que uma aula expositiva e descontextualizada, talvez não alcançasse. Nesses encontros pedagógicos para a leitura, as diferentes visões de mundo, entre os interlocutores (críticos), permitiram uma compreensão textual enriquecedora, plural e coletiva, além das fronteiras superficiais da estrutura e do funcionamento dos mecanismos textuais (coesão, coerência, consistência, dentre outros).

Nas situações de interação entre facilitadores e aprendizes, avaliar o processo para reorientá-lo de modo a manter a qualidade do fazer pedagógico e inovar as práticas sociais de referência é um diferencial importante para o profissional que deseja uma formação contínua e reflexiva. Esse diferencial está no sentido de analisar semântica e discursivamente um recorte ou um gênero discursivo, desde as suas estruturas sintáticas até a ideologia impregnada no material lingüístico e/ou simbólico que o revela.

Década de 60/70 antecipação da modernidade

No final da década, em 1969, todos os tipos de periódicos devem ter noticiado a primeira vez que o homem pisa na lua em 20/07/1969, missão Apolo 11, que também foi televisionado, para a maioria das naçoes (BURNS, 2005). Podemos perceber que os fatos se transformam em textos que certamente farão parte da história, por conter a própria história, por conter informações sobre o contexto onde os acontecimentos ocorreram. Por outro lado, as revistas brasileiras devem ter noticiado a crise do petróleo de 1970 até 1974, a qual levou à recessão os Estados Unidos – maior consumidor de derivados, em conflito com o mundo árabe por apoio a Israel – ao mesmo tempo em que economias de países como o Japão e Alemanha começavam a crescer (HOBSBAWN, 2000).

Ao falarmos sobre o contexto mundial destas duas décadas, ai claro incluído o Brasil, podemos falar na descoberta da versatilidade do laser que pode abrir túneis, derrubar aviões e inclusive recuperar um dos melhores jogadores da seleção brasileira, o Tostão, para a copa de 70, por meio de uma cirurgia no joelho. Este fato possa gerou uma entrevista com o jogador, texto muito utilizado para divulgação de contextos e fatos que ocorriam com celebridades, dentre elas podemos citar a revista Placar, lançada na década de 1970.

Também quanto a descobertas tecnológicas, entre tantas outras, gostaríamos de destacar os poderosos aparelhos microscópios que já conseguiam revelar o DNA e o RNA dois ácidos que determinam a hereditariedade nas espécies (MARQUES, 1997). Esse foi certamente um dos grandes passos para os avanços da genética moderna e foi divulgada em revistas especializadas com a Nature que já existia na época, inclusive no Brasil.

Ainda nessa época, algo que deve ter mexido com a vaidade humana: surge o primeiro produto dietético e inicia-se a onda de emagrecer que tomou conta da década, sendo uma notícia que mereceu atenção por parte de todos. Pensando nisso, podemos dizer que revistas como Capricho, Contigo, Sétimo Céu, divulgaram esse fato, na passagem da década de 1960 para 70, juntamente com outras revistas e periódicos interessados em descobertas científicas, assunto que muito atrai a atenção dos jovens, quase sempre atentos à modernidade (VENTURA, 1972).

Outro acontecimento interessante dos anos 60/70, muito comentado na época, foi a robótica com a mão cibernética que executava os mais delicados movimentos com a eficiência de uma mão natural. Não se sabe ao certo a reação das pessoas a todas essas novidades, pois pesquisas como estas exigiam tempo e pessoal disponível para desenvolvê-las (MARQUES, 1997). Porém, jornais como O Globo utilizaram muito a pesquisa de opinião, para divulgar a reação da sociedade a determinados fatos. Assim, foi ventilado alguma preocupação dos trabalhadores com medo de perder seus empregos para as máquinas, porém para afirmar com maior precisão precisaríamos de maiores pesquisas.