segunda-feira, 5 de julho de 2010

Saberes culturais da década de 60/70

Como o lema da juventude era o prazer da velocidade, no ruído ensurdecedor da motocicleta, o vento batendo no rosto e a máquina obedecendo ao comando, o jovem começava a manifestar no mesmo ritmo alucinante do Rock and Roll. Quase sempre, os jornais como a Folha de São Paulo, pioneira na impressão offset a cores no Brasil, veicularam notícias sobre protestos que foram espalhado pelo mundo afora em um mesmo lema social: contra a guerra e a repressão, contra o racismo, e ao mesmo tempo pela paz, pelos subdesenvolvidos, pelos pobres.




Certamente, uma das boas notícias que foi divulgada por jornais da época, tanto internacionais como os nacionais, por exemplo, o Jornal do Brasil foi o acordo assinado entre Estados Unidos e União Soviética pelo desarmamento da era atômica, proibindo experiências nucleares. Desse modo, é um acordo para o fim da chamada guerra fria, sendo esse fato merecedor de inúmeros artigos jornalísticos pelo mundo, inclusive em telejornais.

Além da grande variedade de bons jornais escritos espalhados pelo mundo afora, nos mais diversos países e cidades, os telejornais ganham grande impulso e começa a levar os acontecimentos mais rapidamente para os lares e as escolas brasileiras, como por exemplo, a independência política a 19 países da África (MARQUES, 1997).

Por outro lado, politicamente nem tudo foi tranqüilidade nessas duas décadas, exigindo da sociedade movimentos culturais contra as guerras como o Movimento Hippie contra a Guerra do Vietnam, deixando no planeta um dos mais famosos temas: paz e amor. Esse movimento foi também chamado de contracultura, mas que viram no Rock and Roll uma forma de reinvidicar a paz pelo mundo. Essas e outras manifestações culturais também deve ter sido muito noticiado por jornais, telejornais e revistas como a Time, O Cruzeiro, Manchete.

Outro fato que comprova que nem sempre a política foi harmônica entre os países e no interior dos próprios países, são assassinados três lideres norte-americanos: John Kennedy, Martin Luther King e Bob Kennedy. Em virtude desse contexto, é provável que os textos sobre essas mortes tenham sido divulgado em jornais, telejornais, revistas, como a Veja e a Revista do Rádio e TV. Esta ultima revista foi lançada até inicio de 1970.

O grande agitador Che Guevara, que muito influenciou os jovens pelo pensamento de liberdade, sem o apoio dos partidos comunistas morre em 1967 na Bolívia, sem implantar o socialismo na América Latina. Por ser uma figura muito apreciada pela juventude, sendo estampado em camisetas até hoje, o argentino Ernest Guevara, apareceu em vários contextos como panfletos, biografias, murais, até chegar às salas de aula, como parte integrante da história, presente no livros, poemas e musicas.

Um acontecimento religioso que merece destaque, nessa mesma época é o falecimento do papa João XXIII (em 1963) e o papa Paulo VI, contrário a toda a política do vaticano, deixa a Itália e vai à Terra Santa no Oriente Médio (BURNS, 2005). Certamente, esses e outros fatos relativos a religião devem ter sido alvo de reportagens pelo mundo inteiro, e divulgadas em jornais como por exemplo no Estado de Minas, que comemorou 80 anos de existência em 2008.

Anos 60 e 70 - Retrato de uma Realidade

Os anos 60 tiveram como marco a grande influência de idéias de liberdade que retratava a chamada geração hippie, resultando na oposição dos jovens dessa geração à sociedade de consumo vigente.
O movimento, que nos 50 vivia restrito aos bares nos EUA, passou a caminhar pelas ruas nos anos 60 e influenciaria novas mudanças de comportamento jovem, como a cultura popular e o pacifismo do final da década (NEVES, 2005).
Naquela época, a transformação do jovem iria ser radical. Até a moda passou a ser alvo de mudanças, era o fim da chamada “moda única”, que passou a ter inúmeras propostas, tornando a forma de se vestir cada vez mais ligada ao comportamento (CASTILHO, 2005). Assim sendo, surge a moda unisex, com roupas de mesmo modelo para ambos os sexos, como por exemplo, as calças Jeans..
A todo esse conjunto de manifestações que surgiram em vários países deu-se o nome de contracultura, que consistia numa busca por um tipo de vida alternativo, à margem do sistema oficial (NEVES, 2005). Pertenciam a esse novo comportamento o uso de cabelos longos, roupas coloridas, misticismo oriental, música e teatro de rua.
Esse movimento influenciou e transformou o modo de pensar e agir da sociedade; as mulheres conquistaram, dessa forma, maior liberdade e passou a marcar presença efetiva nos movimentos políticos a partir da década de 60, na grande maioria dos países. No Brasil, por exemplo, lutaram e fizeram parte de movimentos pró-anistia contra o militarismo.
Em virtude do Golpe de 64 e da repressão militar, somente na década de 70 é que se retoma o processo de reorganização dos movimentos feministas no país. É, contudo, num dado momento específico, intitulado como “a luta pela anistia” que a presença dos jovens na esfera pública torna-se mais significativa, no final da década de 1970 (VENTURA, 1972).
No cenário das artes, de 1966 a 1972, apresenta o estado de espírito inovador que definiria os anos 70 - a era dos festivais de músicas e shows em espaços abertos. Em contrapartida os jovens se lançam à suposta liberdade, revelando as experiências com substâncias químicas alucinóginas, a perda da inocência, a revolução sexual e os protestos juvenis contra a ameaça de endurecimento dos governos (VENTURA, 1972). Nos anos 70, também revolucionários no Brasil, o povo assiste pelos telejornais, as conquistas e repressões daqueles que lutavam pela liberdade de expressão e contra a censura.
Trata-se de duas décadas que foram retratadas de diversos modos, inclusive seriado entitulado “Anos Rebeldes” (Rede Globo) que foi apresentado na década de 1990, no mesmo ano do empeachment de Fernando Collor.
É importante dizer que a rebeldia juvenil não é uma particularidade dessa época, mas nos anos 60/70, ela deixou de ter simples motivações psicológicas para ganhar componentes sociológicos novos e se constituir em manifesto social (NEVES, 2005). Ao voltar na história, percebe-se que os anos 60 e 70 foram de luta e recusa, pacífica ou violenta, mas sempre radical, sendo o contexto em que se desenvolveram muitos textos da época, como o jornalístico, o literário, o televisivo e outros.