Esta reflexão tem por objetivo relatar o papel da articulação dialógica entre professor e aluno, na formação social do leitor capaz de compreender as várias modalidades discursivas em língua materna e estrangeira. Foi desenvolvido em sala de aula, biblioteca, em anfiteatros, e outros espaços pedagógicos, cujo ambiente favorecia a leitura e a compreensão dos mais variados gêneros dos discursos das diferentes ciências abordadas no ensino médio.
Nessa pesquisa, focalizamos a mediação pedagógica, por meio do diálogo coletivo e entre pares, visando a contribuir com a formação do ente-discursivo do aluno (ente no sentido de “estar sendo”, “em formação”), utilizando-se diversas linguagens que colaborem na ampliação de seu universo cognitivo.
Gostaríamos de enfatizar que as aulas sob o contexto de projetos muito chamaram a atenção do aluno, pois escolhemos temas que refletem a realidade social, cultural e ideológica de nosso país. Considerando que professores e alunos se formam e se interagem em espaços diversificados, respeitamos mutuamente toda e qualquer opinião, sugestão, perspectiva, concepção e a forma de expressar do grupo, e chamamos o projeto de Encontros com o Saber Lingüístico e Literário Sócio-Ideologicamente Construído.
Na interação professor-aluno, ao se desvendar e compreender o discurso que circula em um material simbólico e histórico, a reflexão de sua postura docente revela a natureza dos aspectos que irão definir a atuação do professor como facilitador do processo de análise da estrutura, do funcionamento, dos modos de organização, das condições de produção, dos contextos, os sentidos que se constroem na extensão dos enunciados de um instrumento de análise.
É imprescindível, em um projeto que envolve leitura, conhecer e compreender a organização da comunidade escolar e o conhecimento de mundo dos educandos, um diagnóstico objetivo da realidade sócio-histórica, na qual o processo de interação e aprendizagem irá se desenvolver. Esse processo foi desenvolvido por meio de projetos e temas, como por exemplo: O Eu, o Mundo e a História; A Questão do Tempo: leituras, convenções e concepções , dentre outros.
As aulas foram ministradas sob a forma de seminários e fóruns de debate, com uma visão multiprofissional, sendo que as primeiras propostas temáticas foram ao encontro dos interesses dos alunos pré-universitários. Ao mesmo tempo propomos contribuir para o aprimoramento e expansão dos conhecimentos lingüísticos e discursivos dos discentes que integraram os grupos de estudos durante os referidos encontros. Esses estudos se desenvolveram dentro da seguinte perspectiva didático-pedagógica: diagnóstico, orientação, acompanhamento, avaliação formativa, reflexão e reiteração, com o intuito de perceberem a inter-relação de conhecimentos.
Compreendemos o espaço pedagógico como uma realidade que permite a interação entre seres humanos (interlocutores) com o objetivo de analisar e fazer ciência. A relação dialética entre os saberes sócio-historicamente construídos, a construção social e discursiva dos leitores integrantes do projeto – mediadores e aprendizes – e o processo de análise de um material simbólico e ideológico quando bem orientada contribui para o sucesso na compreensão e elaboração de textos.
Apoiados nesses pressupostos, inferimos inicialmente que a interação na aprendizagem, por meio do diálogo, é essencial no contexto da formação social do leitor, quer criança, jovem ou adulto. Essas reflexões nos levaram a tomar novas posturas pedagógicas e a promover encontros por meio de seminários, envolvendo acadêmicos do Curso de Letras da Universidade de Uberaba de diferentes visões e concepções no estudo crítico de cada gênero discursivo. Desse modo, o fazer pedagógico que era desenvolvido individualmente no 1º semestre de 2004, ou seja, um só orientador, passou a ser conduzido em equipe, no 2º semestre do mesmo ano.
Percebemos que a ação dialógica no cotidiano escolar é um momento de criação de novos sentidos e significações sociais e culturais, levando-nos muitas vezes a transpor limites além das expectativas que uma aula expositiva e descontextualizada, talvez não alcançasse. Nesses encontros pedagógicos para a leitura, as diferentes visões de mundo, entre os interlocutores (críticos), permitiram uma compreensão textual enriquecedora, plural e coletiva, além das fronteiras superficiais da estrutura e do funcionamento dos mecanismos textuais (coesão, coerência, consistência, dentre outros).
Nas situações de interação entre facilitadores e aprendizes, avaliar o processo para reorientá-lo de modo a manter a qualidade do fazer pedagógico e inovar as práticas sociais de referência é um diferencial importante para o profissional que deseja uma formação contínua e reflexiva. Esse diferencial está no sentido de analisar semântica e discursivamente um recorte ou um gênero discursivo, desde as suas estruturas sintáticas até a ideologia impregnada no material lingüístico e/ou simbólico que o revela.
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