segunda-feira, 12 de julho de 2010

TECENDO O TEXTO

O tempo e a inspiração me convidam a criar um texto com tipologia, forma e adereços como quem cose uma roupa estampada e colorida. Um tecido confeccionado em minha mente e que veste seu corpo de leitor sob forma de tatuagens, iconografia viva e desenhos uniformes. Ao decodificar meu pensamento, a mentalização da imagem me conduz às letras com as quais moldo as palavras, crio ícones e levo a informação a você que acompanha o desdobrar dos acontecimentos. Assim, com esse teor introdutório, envolvo o pensamento de quem lê, de quem busca a compreensão inquieta e desfruta de um instante único em sua vida de leituras e interpretações.

Desse emaranhado de códigos, bem desenhados e definidos, dessas palavras extraídas de minha personalidade em atividade escrita, desenho uma estampa para decorar o papel com o qual idealizo meu novo agasalho. Pois, quando utilizo meus dedos como rocas de fiar, elaboro um novelo contendo frases e sentenças na tentativa de aproximar minha idéia do leitor. Esse, ainda errante no início da leitura, percorre espaços e preenchimentos, sem saber por quais caminhos irei conduzir sua imaginação. Ao mesmo tempo, componho uma obra à mercê de uma alma para quem subjetivamente escrevo e que espero devoradora de páginas e livros ainda em construção.

Pego, então, aquele novelo, atiro-o no ar e, com sua bagagem de leitor, faço desenrolar um mundo real e fantástico. Alinhavo idéias, uma a uma, no afã de extravasar sentimentos e recortar mensagens, com o objetivo certo de lhe prender por alguns minutos e levá-lo a pensar em uma vestimenta rica e ideal. Convido-o a participar de um baile de máscaras e fantasias, leitor das horas, a contribuir com suas emoções e, assim, dar vida a este texto que, sem sua vista perscrutadora, inteligente e crítica, fica impossível transmitir o meu íntimo desejo de comunicar.

Portanto, com o tecido, que neste instante tem a finalidade de vestir o vazio e preencher o branco desta folha de papel, costuro signos desejosos de se unificarem em coesão e coerência. Faço desse meu discurso inusitado, peças e peças de fazenda com as quais componho um livro cheio de inseguranças e desejos de aprendizado. Se almejo alcançar e edificar o conhecimento, aí sim, crio volumes e enciclopédias, uma vez que as palavras são tantas e o tecido é infinito. Teço uma roupa e escolho os leitores para vesti-los com minha ideologia, com meu parco saber e com minha cultura de aprendiz.

O fato é que, como costureiro de indumentárias lingüísticas, tenho que dar sentido à minha criação e revelar todo o paramento nela disfarçado. Através de agulhas, retroses e uma enorme vontade de proporcionar-lhes uma leitura agradável, coloco enfeites e brilhos ainda não prontos em meu ateliê, composto de computadores, canetas, impressoras e papéis. Porém, como num teatro, onde cortinas caem e levantam, o escritor também espera contagiar um público que sequer conhece e informa: agora, é hora de arrematar o vestuário e entregá-lo ao deleite particular de quem lê, artistas do cotidiano sem os quais o escritor não sobrevive.


Antonio Carlos Tomás Fialho Magalhães
Setembro/2002

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